Obesidade na criança – reflete as dificuldades emocionais da família?

Para tentar expressar minhas formas de pensar, criarei histórias e cenas imaginárias.

Portanto, os exemplos sobre as situações que mencionarei – seja nesta, ou em qualquer outra postagem – serão fictícias.

Escrevi em meu primeiro livro (Obesidade infantil – aspectos emocionais e vínculo mãe/filho; p5) que a obesidade infantil é de difícil tratamento e pode trazer consequências desfavoráveis tanto físicas, quanto sociais e emocionais. Também disse que é considerada um problema crônico, uma síndrome, uma vez que está sujeita a diversos fatores que a influenciam e desencadeiam.

Veja só: diversos estudos têm sido realizados para tentar compreender suas causas e origens – o risco de uma criança ser obesa aumenta em função da obesidade dos pais: é baixo quando nenhum dos pais é obeso, alto quando um dos pais é obeso e muito alto quando ambos são obesos.

Atendi e atendo várias mães bastante preocupadas com o peso da criança. 

Mais mães me procuram do que pais. 

Mais mães sozinhas do que com o companheiro. 

Em geral vêm para mim por encaminhamento médico.

Preciso colocar aqui, que não cabe a mim JAMAIS culpar pai e mãe, muito menos a criança.

Além de não ajudar, eu não me identifico com este papel, isto não faz parte da forma como eu penso e trabalho,  além de ter a certeza de que cada um, nesta vida, faz o melhor que consegue, e consegue fazer somente o que é possível. 

Então, quem sou eu para julgar? 

Já ouvi muitas queixas em relação a doces, das próprias crianças e de muitos adultos – não param de comer, só comem alimentos adocicados, colocam mais açúcar em  sucos que já vem adoçados, pedem para os pais comprarem refrigerantes, bolachas recheadas, e coisas do gênero. Quem gosta de doces sabe que quanto mais se come, mais se come e mais se come…e mais se gosta de comê-los…

Também já ouvi bastante que o filho come demais e repete o prato, não raramente, três vezes na mesma refeição, comentando que a comida está muito boa e que ele está com muita fome, afinal chegou da escola há pouco, estudou demais, teve dificuldades com os amigos, a matéria foi difícil, ficou sozinho no intervalo, a professora brigou com ele, se desentendeu com o amigo, sentiu-se só,  estava triste, quis comprar lanche, mas não tinha dinheiro, estava chovendo e a fome aumentou, ele fez aula de educação física, jogou futebol, a filha também jogou futebol, também está com muita fome, ele está aborrecido hoje, ele está feliz hoje, conseguiu fazer muitas atividades boas, conversou com muita gente, interagiu muito……..entendeu?

A criança está que é uma ansiedade só…e lá vão todos – ela, a mãe e, às vezes, o pai e os irmãos – jogar toda a carga emocional na coitada da comida que leva a culpa nesta e noutras situações…

Mas a comida é mesmo um lugar muito propício para colocarmos nossas insatisfações, angústias, ansiedades, medos, saudades, alegrias, comemorações e tantas outras emoções. Afinal, ela é carregada de afeto desde a primeira mamada – e pasmem: passamos a vida tentando encontrar e repetir esta satisfação primeva.

Mas aquela mãe que mencionei acima, enlouquecida, já disse mil vezes que o filho não pode repetir, ali mesmo, naquela hora, naquela refeição, e esta situação se repete nos dias que se seguem, para insatisfação e infelicidade da dupla e dos membros da família, acabando com qualquer possibilidade de o clima ser agradável ao estarem juntos para comer. 

E o pai?

Trabalhando. Mas ele volta para o jantar. E cansado. A mãe também já trabalhou e também está cansada. 

A queixa dela, comigo no consultório, é sobre sua solidão, sobre como só ela se preocupa com a obesidade do filho e faz o papel de bruxa o tempo todo. O pai o deixa comer o que quiser…não se indispõe. Não concorda que é brigando que se muda o quadro. Certo?

Perceba que cada família tem uma dinâmica, um jeito próprio de funcionar.

Como será que esses pais lidam com suas próprias ansiedades e afetos? 

Como lidam com as diferenças entre eles?

A criança, desde muito cedo está de olho nisso tudo – seu radar está ligado desde a barriga – percebe e aprende com sagaz facilidade como seus modelos atuam um com o outro e consigo mesmos.

Os dois pais estão acima do peso. Será que também eles deslocam para a alimentação o que a mente não consegue conter?

Vamos conversando…podemos pensar coisas bem interessantes juntos!

Até a próxima postagem. 

2148519450 - Patrícia Spada Psicóloga na Vila Olímpia São Paulo

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